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CÉLER, das ” Memórias de Adriano”
Ensaio de ANTONIO MIRANDA
[ 19.07.1993 ] 

 “Encontrei uma vez mais, em circunstâncias
um pouco diferentes daquelas tão recentes ainda,
um desses seres cujo destino é dedicar-se, amar
e servir.”  Desde que o conheço, Céler não teve  
sequer um pensamento que não fosse relacionado
com meu bem-estar, ou minha segurança;
apoio-me ainda sobre esse ombro forte”.


Memórias de Adriano
Marguerite Yourcenar


           Retorno à leitura das “Memórias de Adriano”, depois
de vários anos. A obra é extraordinária e se constitui em
um espelho, em um êmulo, em uma lição de vida.
Extraordinária a reconstrução da cultura greco-latina e
fascinante o pensamento a um tempo arcaico e moderno do Imperador. E que isenção diante dos valores da época!
Nenhuma reprimenda, nenhum acanhamento, nenhum
disfarce ou justificativa piegas ou moralista. As ideias de
Adriano fluem soltas, livres, sem cerceamentos.
Em verdade, a auto-biografia de uma cultura inteira, híbrida, miscigenada, aberta a todas as influências de seu tempo. Espiritual sem ser religiosa, culta sem ser pedante, sobretudo despojada de fanatismo e auto-flagelamento.
Um certo epicurismo puro, valorização do indivíduo. Um culto à beleza, à ética, à amizade, à sublimação por intermédio da arte, de cunho eminentemente helênico.
Adriano fora a encarnação das culturas da geografia do Império Romano, imbuído do sincretismo, sem temer-lhe o sentido ímpio e impuro. Sangue bárbaro nas veias, influências teosóficas egípcias, preconceitos refutados aos cristãos e aos judeus, constituiu uma religião própria em que os seus efebos acabaram totemizados e divinizados, em que cultivou a civilizatória de Roma, a oposição aos imediaticismo, hedonismo e mediocridade das cortes palacianas.
A amizade seria o sustentáculo de toda a sua crença na humanidade.
Sem os entraves judaico-cristãos, Adriano viveu a sua fantasia sem limites além de sua própria determinação.  Mas era bom e justo. E sabia amar. Amava o corpo belo e a inteligência, fazia-lhe culto e mandava erguer monumentos. Como ninguém compreendeu o relativismo do mens sana in corpore sana, ao fazer a guerra e sustentar a paz; ao liberar os instinto sob a inspiração da beleza e da justiça; cultivando o corpo sem desdenhar a sua perecibilidade, aceita-la como parte de um eterno mais amplo, mais verdadeiro.  Espartano e ateniense, sem perder a noção dos contrários, da dialética natural dos opostos, em busca do equilíbrio só possível enquanto transitório.
Ter alguém numa dimensão de reciprocidade. De apoio mútuo, de complementariedade, de desenvolvimento e criação, só possível entre os iguais...
Ser superior sem arrogância, sendo o fraco e o forte
forças que se apoiam e completam. O outro como
extensão de si.
Há seres criadores, necessitados de apoio para criar,
para ampliar seus braços, suas faculdades físicas, suas
realizações.  E tanto melhor que o outro faça parte do mesmo processo criativo, apaixonadamente.
Que se entregue, que se dê, que empreste seu ser, sem
limites. E que não haja diferenças de idade, de raça,

de sexo, de nível social em tal criação.

Tais preconceitos são ridículos e absurdos, sobretudo na comunhão em que a amizade se instaura.
Quando se chega a um ponto de criação sem retorno, onde
o onírico assimila o real, onde a perfeição é apenas um processo assimilando as próprias imperfeições de que se nutre, caem todas as barreiras sociais e étnicas.
Adriano foi um exemplo da superioridade da miscigenação cultural. Só os bárbaros permanecem no sectarismo e no racismo, na ignorância.
Ter sem possuir. Um despojamento sadio, sublimado.
Um corpo que é seu próprio, que é antes dos outros
que seu, mas é apenas seu.
Um relacionamento maduro, satisfeito.
Também Adriano soube ter e dar-se sem ter ninguém,
sem ser definitivamente possuído.
Enquanto amava era de vários, mas era fiel ao próprio amor. Antinoo morreu, amando-o. Era o favorito,
não era o único. Guerreiro, tinha o mundo a seus pés,
mas conquistava-o com a inteligência e vivia de sua sensibilidade.  Só ela era capaz de mantê-lo feliz.
A mulher cercava-se de uma corte de intelectuais
e fazia as articulações sociais e políticas de uma imperatriz.
O Imperador Adriano, ao contrário, dedicava-se às conquistas ou, para ser mais preciso, à manutenção
do vasto território conquistado do Oriente Médio à Ibéria, acrescentando-lhe os contornos do norte africano.
Mas aquele mundo vasto estava em seus estertores.
E com ele, os seus valores.
Mas há quem pretenda preservá-los, nos dias de hoje,
como ele tomou a si a manutenção e propagação do helenismo.
Depois dele veio a decadência do Império, as trevas da
Idade Média. Triunfaram os bárbaros, logo se expandiram as crenças mais radicais, inclusive o cristianismo, com sua noção de pecado.


 

 

 
 
 
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